Cheia de graça é a nossa língua,
portuguesa.
Você nem precisa
aprender o á-bê-cê para rir com ela.
Desde pequeno já
ouve dizer que mentira tem pernas curtas.
E mentira tem
pernas?
E a verdade? A
verdade tem pernas longas?
E quando dói a
barriga da perna?
Ou quando ficamos
de orelha em pé?
O que a barriga tem
a ver com a perna, e orelha com o pé?
Pra ser divertido,
não leve nada ao pé da letra!
Até porque letra
não tem pé. Ou tem?
Pé-de-meia é o
dinheiro que a gente economiza.
Pé-de-moleque, doce
de amendoim.
Dedo de prosa é
papo rápido.
Dedo-duro é
traidor.
Pão-duro, pessoa
egoísta.
E boca da noite? E
céu da boca?
É uma brincadeira
atrás da outra!
Cabeça de cebola,
dente de alho, braço de mar.
Com a nossa língua,
a gente pode pegar a vida pela mão.
Pode abrir o
coração. Pode fechar a tristeza.
A gente pode morrer
de medo e, ao mesmo tempo, estar vivinho da silva.
Pode fazer coisas
sem pé nem cabeça.
Mas brincar com
palavras também é coisa séria.
Basta errar o tom e
você vai parar no olho do furacão.
Então, divirta-se.
Cuidado só para não morder a língua portuguesa!
João Anzanello Carrascoza, autor desta crônica, é redator de propagandae professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Clouds, autora desta ilustração, é formada em design gráfico pela Universidade Federal do Paraná e colabora com revistas da Editora Abril.