sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Dicas para professores iniciantes

Hoje trarei dicas para os recém chegados à profissão, formados há pouco ou ainda estudantes de licenciatura ou pedagogia.

Para entrar no mercado de trabalho, assim como em qualquer outra profissão, é preciso atitude.

- Se a sua vontade é trabalhar em escolas, sugiro que analise entre seus contatos se haveria alguém influente neste meio para que faça a sua indicação. A pessoa deve ser de confiança sua, e também deve ter boa reputação na escola.

- Caso não conheça alguém que faça a indicação, ou caso a indicação não tenha resultado em uma contratação, utilize a internet e as listas telefônicas para levantar os contatos das escolas. Sugiro que não entre em contato com escolas que não te despertam interesse. Pesquise, procure saber sobre a reputação da escola, sobre a quantidade de alunos por sala, sobre a filosofia pedagógica adotada, para concluir se faz o seu perfil. Nada acrescenta para a sua carreira trabalhar em uma escola simplesmente pelo salário ou por falta de opção. Educação é um processo de escolha, os profissionais devem sentir-se conectados com o local onde trabalham, assim como aos alunos e corpo pedagógico.

- Ligue para as escolas. Apresente-se da melhor forma possível, em tom de voz firme, mas gentil e simpático, e demonstrando confiança em seu potencial. Lembre-se que para convencer aos demais sobre suas capacidades, primeiro você deve ser o primeiro a acreditar em cada uma delas! Demonstre o interesse em deixar seus dados e contatos para possíveis oportunidades, e pergunte se você poderia enviar seu currículo para algum e-mail, ou se deve ir pessoalmente. Após a orientação, o faça de acordo com a indicação.

- Para a elaboração de seu currículo, há diversas orientações e modelos na internet. Pesquise, e o monte da melhor forma possível, deixando sempre seu nome em evidência, e seus contatos como primeira informação. Seus pontos fortes devem vir em primeiro lugar, seguidos pelas informações menos importantes, em sua ordem de relevância. Se você não tem experiência, mas cursa/cursou sua graduação em uma universidade renomada, destaque a informação. Caso a universidade não seja tão renomada, mas você tem diversos cursos na área, e experiência em trabalho voluntário, por exemplo, divulgue a informação também. Direcione o foco de quem estará analisando suas informações. São estratégias...

- Mantenha o telefone que deixou para contato sempre acessível, e verifique sua caixa de e-mails frequentemente, para que não perca oportunidades de emprego.

- Ao ser contactada, demonstre-se receptiva, interessada se realmente estiver. Caso a oportunidade não te agrade, dispense educadamente e agradeça o contato.

- Na entrevista de trabalho, vista-se adequadamente, e também comporte-se de maneira confiante. Postura ereta, tom de voz firme, simpatia e autoconfiança são essenciais. Aperte a mão do entrevistador com força, ao sentar-se não cruze os braços em posição de descanso. Conte sobre você da melhor forma possível, lembrando de falar sobre a realidade, sobre seu real potencial, suas filosofias, ambições, modo de trabalho...

Pronto: está contratada! Parte 2...

- Planeje bem as aulas: Faça um planejamento detalhado do que vai fazer, em conteúdo e estrutura, o que vai por no quadro, o que vai dizer. Improviso é para quando você estiver mais maduro e mais à vontade. Se quiser modelos de planejamento, veja o  Almanaque do ProfessorVocê pode usar também mapas mentais, seja para planejar, seja para apresentar o conteúdo para os alunos, seja para estes estudarem. Veja no link acima a seção com exemplos, modelos e roteiro de elaboração, entre outras coisas. Mapas mentais também requerem prática e dedicação para sairem bem-feitos, mas está no futuro das escolas, pode ter certeza. Se você os usar bem, já estará se diferenciando dos outros professores, para melhor. É bom que você tenha experiência significativa com o conteúdo, aí pode se concentrar na parte didática. Se não tem, sugiro que a adquira rapidamente ou lecione outra matéria. Nada pior do que um professor teórico, que acaba investindo a maior parte do tempo em seu próprio aprendizado e não no aperfeiçoamento do planejamento, da comunicação e outros aspectos do ensino. Lembre-se de que todos nós gostamos de variação e não gostamos de monotonia. Varie as estratégias de ensino, faça os alunos se mexerem de vez em quando, faça perguntas, faça-os trabalhar em dupla ou em grupo. Se estiverem inquietos, dê 2 minutos para fazerem o que quiserem. De vez em quando, certifique-se de que estão acompanhando; conforme o caso, um conceito perdido compromete o restante da aula. Dirija-se a um aluno específico; alguns alunos nunca abrem a boca por iniciativa própria, talvez por medos como gozações de colegas ou "pagar mico". E faça o possível para dar plantões ou ter plantonistas para atendimento individual, os alunos aprendem muito melhor com as respostas às suas próprias perguntas.

- Ensaie: Dê a aula antes, para ninguém, para o espelho ou para um conhecido. Se com este, peça para ele criticar e lhe indicar as oportunidades de melhoria. Grave-se ou filme-se dando aulas e depois escute ou veja procurando oportunidades de melhoria (faça isso antes que a realidade lhe mostre). Se você nunca deu uma aula antes, quase tudo é novo, e há muito, muito que você não sabe e que nem sabe que não sabe. Procure variar o tom de voz, é mais difícil prestar atenção a uma voz monótona. Repita e/ou enfatize com a voz algumas passagens mais importantes. 

- Prepare-se emocionalmente: Emoções geralmente contém uma mensagem. Na véspera da minha primeira aula, senti verdadeiro pânico; um colega o teve durante a primeira aula. Depois descobri que isso era uma mensagem de que eu devia me preparar melhor. Na seção Inteligência Emocional tem uma matéria sobre como lidar produtivamente com medos: Medo, seu aliado para o sucesso. Pratique-a algumas vezes que depois você acaba fazendo-a automaticamente, e terá uma boa ferramenta para o resto da vida. 

- Ajuste as expectativas: Cuidado com a auto-expectativa irreal de que você tem que saber tudo e responder a tudo. Já vi um professor contar que disfarçava seu não-saber indicando ao aluno o exercício de buscar a resposta.  Você tem que saber o conteúdo e mais um pouco. Quando me perguntavam coisas que eu não sabia, fora da matéria, eu simplesmente dizia que não sabia. Se achasse importante, podia até procurar, mas não era a regra. Um aluno uma vez até disse me admirar por isso! O que lhe dá credibilidade, talvez a mais importante característica de um professor, não é saber tudo, porque isso não é possível, mas sim dizer o que é, quando sabe, dizer que acha que é, quando não tem certeza, e dizer que não sabe, quando realmente não sabe. Isso é que o torna confiável.

- Segure as rédeas da turma: Um ponto essencial em classe é você reconhecer e saber que você é a autoridade. Os alunos testam os limites para saber como se portar e usam o que acontece como referência para o que vão fazer. Se alguém conversar alto e você não fizer nada, abre caminho para que aconteça de novo. E se você disser que vai mandar alguém embora se atrapalhar e o fizer duas ou três vezes, vai ter um padrão que permite aos alunos prever o que vai acontecer, e aí não vai precisar mandar ninguém embora. O importante aqui é você ter bem claro para si mesmo o que quer e saber que é o responsável por fazer isso acontecer. Por outro lado, é importante preservar um bom e amigável relacionamento com os alunos, senão te "fritam" e você não consegue alcançar o objetivo. Assim, um dos objetivos iniciais é construir um bom relacionamento com a turma e com os alunos, o que vai lhe permitir depois chamar a atenção deles sem que eles achem que você os odeia (sobre isso, veja a matéria Golfinho esperto, nesta seção). Para isso, procure os lados bons de cada um:  um é estudioso, o outro é cordial e respeitoso, todos têm qualidades, e você é que tem que percebê-las. Se tiver que fazer algo drástico, como mandar alguém embora, faça-o na boa, sem "matar" o relacionamento com ninguém. O que você diz é secundário; a maneira como o diz é muito mais significativa. Nosso papel em sala é análogo ao de uma boa enfermeira, que não liga se o doente é chato ou não, ela tem uma missão e precisa fazer o que é preciso para cumpri-la, e precisa então relevar, ignorar e esquecer as coisas que a tiram do foco e não contribuem para os objetivos.

- Coloque-se no lugar do aluno: Um exercício muito bom que você pode fazer é, estando relaxado, visualizar-se sentado numa das carteiras, na posição de aluno. Experimente e descubra as vantagens. Uma professora de Biologia que conheço prepara as aulas assim: lê a matéria, monta o quadro na mente e se coloca na posição de um aluno para verificar se está bom. Outra coisa boa é lembrar-se de suas próprias experiências como aluno, como o que gostava nos professores e como se relacionava com eles, o que sentia, como se motivava, influência dos colegas. 

- Tímido, eu? E se você acredita que é tímido, permita-me não acreditar nisso, garanto que tem situações em que você não age timidamente. É uma situação nova e requer preparação, e uma vez preparado o suficiente, você vai se sentir mais confiante e com vontade, sabendo que vai fazer um bom trabalho ou pelo menos que fez o seu melhor para isso, e vai continuar melhorando na medida de sua dedicação. Para isso você só precisa de foco: durante um tempo, priorizar a nova atividade e dedicar todo o tempo possível. É querer de verdade fazer o melhor possível. Depois é mais tranquilo.

- Melhore-se: Para o futuro, mantenha ao lado, leia e procure aplicar as idéias de livros de didática, em particular os de PNL. Recomendo:

- Treinando com a PNL (O'Connor e Seymour)
- Enfrentando a Audiência (Robert B. Dilts)
- Aprendizagem Dinâmica I e II (Dilts e Epstein)
Almanaque do Professor - Modelos, técnicas, estratégias e muitas outras idéias que juntei e que podem lhe inspirar.

Ponha na cabeça e no coração que haverá sempre algo a mais para se aprender, seja com livros, com colegas, consigo mesmo, com o coordenador ou com feedbacks de alunos. Descobrir que não sabe algo é um avanço, lembre-se disso. E, como disse o Millôr, "Aula em que o professor não aprende nada é uma aula inútil".


- Outra alternativa de adentrar ao meio da educação, com estabilidade profissional e salários razoavelmente bons, é por meio da aprovação dos concursos públicos. Fique atento às oportunidades e prepare-se com frequência. Políticas públicas geralmente são conteúdos bastante cobrados. Domine a Lei de Diretrizes e Bases, o Plano Nacional de Educação, a Constituição Federal...

- Alternativa terceira, que pode inclusive ocorrer concomitantemente ao trabalho consequente de uma das alternativas anteriores é a aula particular. Com muitos pontos positivos, ela permite que se trabalhe individualmente ou em pequenos grupos de alunos, permite um contato mais próximo e as vezes afetivo com os pais e familiares, além da aula poder ser totalmente direcionada e personalizada. Além disso, estudantes de pedagogia ou licenciatura que sintam-se preparados (importante!) podem lecionar desta forma, adquirindo experiência, domínio, conhecimentos e autoconfiança.

Lembre-se que, independente de onde atua, seu trabalho deve ser muito bem feito, e feito com amor, dedicação. A formação continuada é essencial... E lembre-se de que a cada dia de trabalho, a cada nova experiência, estará construindo sua reputação, que pode ser positiva ou negativa, mas definirá o rumo de sua carreira profissional e só depende de você!

Boa sorte, e bom trabalho!