segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A autonomia da criança na resolução de conflitos

Os conflitos em nossa vida são inevitáveis, já que convivemos coletivamente, e as pessoas são diferentes de nós com relação às ideias, às convicções, aos objetivos, valores e personalidade.
Mas como incentivar que a criança haja diante deles?






As insatisfações ocorrem desde a infância, por motivos inúmeros, muitas vezes banais para nós, adultos, mas totalmente relevantes para os participantes.

Uma disputa por um brinquedo no parquinho, a vontade não correspondida de adentrar a uma panelinha de amigos, uma chamada de atenção da professora que o aluno não gosta, a obrigatoriedade do cumprimento de regras em casa e na escola, um tom de voz mais alto do colega com quem brincava, uma briga de criança... Enfim, são inúmeras as possibilidades de situações que podem despertar a insatisfação.



Diante das situações, as crianças correspondem de maneiras diferentes, dependendo de sua iniciativa (que muitas vezes é interferida pela educação à que é subordinada):


Choram: 


Como resultado da impotência que está interiorizada, a criança chora de desespero, de tristeza, de raiva, ou simplesmente porque não sabe como resolver o conflito de uma outra maneira.

Muitas vezes, o choro acarreta na resolução do problema, pois muitos educadores, equivocadamente, cedem à esta atitude, oferecendo auxílio, consolo, que não ocorreria caso o choro não tivesse acontecido.





A criança percebe a consequência de sua atitude e a partir de então chora cada vez mais alto para que a solução venha mais rápido. Está errado!








Batem: 

Muitas crianças, não sabendo conversar e expressar seu descontentamento diante da situação através de diálogo, utilizam da força para impor sua vontade. Muitas vezes funciona, e quando a criança percebe isso, o faz com maior frequência. Cabe aos educadores e pais perceberem a situação e não permitirem, oferecendo outra opção de resolução do conflito.




"Deduram" o colega (ou a professora, ou irmão, a mãe, seja quem seja...): 

Por incrível que pareça, esta é uma situação bastante comum e inclusive estimulada por muitos "educadores" e pais, equivocados em sua prática.
A criança depara-se com uma dificuldade à qual não sente-se capaz em resolver sozinha.
Ao invés de conversar com o colega, sai logo correndo e conta para quem a protege, ao seu modo, parcial e manipulador (já que a intensão é resolver o problema e muitas vezes, tem-se parcela nele).
O protetor, então, toma partido da situação (sem nem ao menos ser democrático e justo em ouvir os diferentes lados da situação).
Ao notar a facilidade que é contar o acontecido para alguém maior, mais forte, que o ajude sem pestanejar, as crianças tendem a agir de má fé, dramatizando muitas situações para beneficiar-se da maneira como lhe é permitida, ou ainda inventam situações de conflito com o mesmo objetivo.



O que muitas vezes passa desapercebido é que quem educa possui o poder transformador, e tem nas mãos a oportunidade de permitir situações que durarão na infância, e se alongarão até a vida adulta (já que sabe-se de que a personalidade e os valores do ser são em grandíssima parte formados enquanto crianças), sendo elas adequadas ou inadequadas.



Como agir adequadamente?


Incentive seu aluno, seu filho, seu irmão mais novo... a utilizar dos recursos de seu próprio corpo para resolver de forma inteligente e honesta o conflito: a cabeça (para pensar), e a boca (para falar).

Tem um problema com alguém? Está chateado? Chame-o, e diga: "Eu não gostei!", demonstrando todo o sentimento que a situação causou. Esta atitude pode ser tomada por crianças desde que aprendem a falar, e deve ser estimulada desde então. Incentiva a expressão de seus sentimentos, de suas insatisfações, e este é um passo muito importante, já que muitos adultos não apresentam esta capacidade e sofrem nos relacionamentos por isso. A partir de então, o próximo passo é a argumentação, que acaba ocorrendo naturalmente neste processo.

Importante dizer que a mesma boca que diz, com muita braveza: "Eu não gostei!", deve dizer com mansidão: "Me desculpe..." quando a reflexão acusar que errou.

Quando toma-se partido do conflito de alguém, julga-o incapaz e subordina-o a esta condição.

É lógico que não devemos ser radicais, e não atuar diante de nenhum conflito, mas a atuação do educador diante disto deve ser intermediadora entre os participantes, e NADA diferente disso, por mais que saibamos quem está com a razão.

A capacidade de resolver conflitos acarreta em:

- melhora da autoestima, 
- maior autoconfiança,
- desenvolvimento da racionalidade,
- maturidade emocional.


Não devemos perder nenhuma oportunidade de incentivar alguém a formar-se quando "solucionador" de seus próprios conflitos, e desta forma ajudaremos a formar adultos que sabem fazê-lo de forma inteligente e ponderada, defendendo assim seus objetivos e valores.


Maiara Roncolatto de Carvalho